Os jogadores de basquetebol e, na verdade, de todas as modalidades, melhoram com base em duas dimensões essenciais: repetição e feedback. Treinar com o volume e a intensidade adequada vai permitir que cada praticante realize o número de repetições que facilita o consolidar dos gestos técnicos e das estratégias. Quanto ao feedback, ou seja, a informação de retorno que os treinadores fornecem ao observar a exercitação dos seus jogadores, ela visa as correções e a melhoria do desempenho dos atletas, individual e coletivamente. Sobre este segundo aspeto, intimamente relacionado com a pedagogia e a comunicação, os técnicos muitas vezes caem no erro de dizer frases do tipo:
A primeira premissa que o treinador deve ter em conta é que quando uma atleta falha um lançamento ou um passe nunca o faz propositadamente. Dizer-lhe, muitas vezes elevando o tom de voz, “passa bem” ou “não falhes isso”, normalmente até associado a uma linguagem corporal negativa, não ajuda em nada. Primeiro, porque é perder tempo a dizer o óbvio. Ela já sabe que passou mal e, naquele momento, é a pessoa mais triste do mundo por isso. Segundo, gritar “passa bem” não fornece qualquer tipo de ajuda ou solução para que ela, num próximo passe, possa fazer melhor.
É uma frase típica que nós treinadores utilizamos quando nos queremos demarcar de uma ação que teve um mau resultado. Não é uma coisa lá muito simpática de se dizer quando, por outro lado, passamos a vida a apregoar que somos uma equipa, que vamos ganhar todos ou perder todos, e outras frases cheias de significado coletivo… que prontamente nos esquecemos nestes momentos em que apontamos o dedo e nos colocamos num patamar completamente diferente de quem falhou.
Um pouco na mesma linha do “passa bem”, o feedback do tipo “não faças isso” também está cheio… de nada. Não é uma correção nem fornece soluções para melhorar. Aparte disso, se eu agora vos disser “Não penses num elefante cor de rosa” o que é que vocês pensaram? Pois… As neurociências explicam o fenómeno, sugerindo-nos então para não darmos instruções pela negativa. Eu sei, eu sei, estou a contradizer-me com o título que escolhemos para esta crónica… mas um título que sugere uma “receita de não fazer” dá sempre um bom clickbait (que é como quem diz, o isco que vos fez clicar para ler, pelo menos, até aqui).
Outra frase a evitar a todo o custo. Rotula, mostra um caráter negativo, definitivo. O objetivo de qualquer jogador é evoluir, melhorar. Se a informação que recebe é a de que está sempre a fazer o mesmo, então o mais normal é que desmotive. Pior mesmo só quando se associa esta frase a uma do tipo “a culpa foi tua”. Mais do que dizer o que fez mal, o que o jogador precisa é de saber o que é necessário para que ele consiga realizar uma determinada tarefa com sucesso.
Mais um erro crasso e frequente. Comparar o desempenho de jogadores, quando cada um é um ser único e individual. Muitos dos jovens que praticam desporto fazem-no porque se sentem bem ao serem competentes e reconhecidos na realização de uma atividade. Isso tem tanto mais valor se acontece junto dos pares. Criticar um atleta, de forma pouco construtiva, à frente dos seus melhores amigos, normalmente resulta em frustração e desmotivação. Muitas vezes, chegamos a comparar desempenhos de jogadores que não chegam sequer a ter igualdade de oportunidades. “Treinador, explique-me lá como quer que eu marque os pontos do Júlio se ele jogou 30 minutos e eu só joguei 10”… Naturalmente que não se deve confundir este comentário com outros, pela positiva, que estimulam a aprendizagem pelo exemplo entre pares.
Elegemos apenas 5 frases mas podiam ser 50… Dirigimos a treinadores mas podemos extrapolar para qualquer tipo de educador, incluindo os pais. Quantas vezes já não dissemos, consciente ou inconscientemente, este tipo de frases aos nossos filhos?