A “Dhika” do Rui – Episódio 16: 5 Frases para não dizer aos Jogadores

février 15, 2023

5 FRASES PARA NÃO DIZER AOS JOGADORES

 

| Crónica Desportiva por Rui Alves

 

Os jogadores de basquetebol e, na verdade, de todas as modalidades, melhoram com base em duas dimensões essenciais: repetição e feedback. Treinar com o volume e a intensidade adequada vai permitir que cada praticante realize o número de repetições que facilita o consolidar dos gestos técnicos e das estratégias. Quanto ao feedback, ou seja, a informação de retorno que os treinadores fornecem ao observar a exercitação dos seus jogadores, ela visa as correções e a melhoria do desempenho dos atletas, individual e coletivamente. Sobre este segundo aspeto, intimamente relacionado com a pedagogia e a comunicação, os técnicos muitas vezes caem no erro de dizer frases do tipo:

 

  1. “Passa bem”

A primeira premissa que o treinador deve ter em conta é que quando uma atleta falha um lançamento ou um passe nunca o faz propositadamente. Dizer-lhe, muitas vezes elevando o tom de voz, “passa bem” ou “não falhes isso”, normalmente até associado a uma linguagem corporal negativa, não ajuda em nada. Primeiro, porque é perder tempo a dizer o óbvio. Ela já sabe que passou mal e, naquele momento, é a pessoa mais triste do mundo por isso. Segundo, gritar “passa bem” não fornece qualquer tipo de ajuda ou solução para que ela, num próximo passe, possa fazer melhor.

 

  1. “Eu já te tinha avisado que ia acontecer”

É uma frase típica que nós treinadores utilizamos quando nos queremos demarcar de uma ação que teve um mau resultado. Não é uma coisa lá muito simpática de se dizer quando, por outro lado, passamos a vida a apregoar que somos uma equipa, que vamos ganhar todos ou perder todos, e outras frases cheias de significado coletivo… que prontamente nos esquecemos nestes momentos em que apontamos o dedo e nos colocamos num patamar completamente diferente de quem falhou.

 

  1. “Não faças isso”

Um pouco na mesma linha do “passa bem”, o feedback do tipo “não faças isso” também está cheio… de nada. Não é uma correção nem fornece soluções para melhorar. Aparte disso, se eu agora vos disser “Não penses num elefante cor de rosa” o que é que vocês pensaram? Pois… As neurociências explicam o fenómeno, sugerindo-nos então para não darmos instruções pela negativa. Eu sei, eu sei, estou a contradizer-me com o título que escolhemos para esta crónica… mas um título que sugere uma “receita de não fazer” dá sempre um bom clickbait (que é como quem diz, o isco que vos fez clicar para ler, pelo menos, até aqui).

 

  1. “És sempre a mesma coisa”

Outra frase a evitar a todo o custo. Rotula, mostra um caráter negativo, definitivo. O objetivo de qualquer jogador é evoluir, melhorar. Se a informação que recebe é a de que está sempre a fazer o mesmo, então o mais normal é que desmotive. Pior mesmo só quando se associa esta frase a uma do tipo “a culpa foi tua”. Mais do que dizer o que fez mal, o que o jogador precisa é de saber o que é necessário para que ele consiga realizar uma determinada tarefa com sucesso.

 

  1. “Devias ser como o Júlio”

Mais um erro crasso e frequente. Comparar o desempenho de jogadores, quando cada um é um ser único e individual. Muitos dos jovens que praticam desporto fazem-no porque se sentem bem ao serem competentes e reconhecidos na realização de uma atividade. Isso tem tanto mais valor se acontece junto dos pares. Criticar um atleta, de forma pouco construtiva, à frente dos seus melhores amigos, normalmente resulta em frustração e desmotivação. Muitas vezes, chegamos a comparar desempenhos de jogadores que não chegam sequer a ter igualdade de oportunidades. “Treinador, explique-me lá como quer que eu marque os pontos do Júlio se ele jogou 30 minutos e eu só joguei 10”… Naturalmente que não se deve confundir este comentário com outros, pela positiva, que estimulam a aprendizagem pelo exemplo entre pares.

 

Elegemos apenas 5 frases mas podiam ser 50… Dirigimos a treinadores mas podemos extrapolar para qualquer tipo de educador, incluindo os pais. Quantas vezes já não dissemos, consciente ou inconscientemente, este tipo de frases aos nossos filhos?