A “Dhika” do Rui EP25: Obrigado, mestres!

novembre 13, 2023

Obrigado, mestres!

 

| Crónica Desportiva por Rui Alves

 

Ouvi recentemente que há três caminhos para o sucesso: (1) ensinar o que se sabe; (2) praticar o que se ensina e (3) perguntar o que se ignora.

 

Quanto ao primeiro, são vários os estudos que demonstram que é no ato de ensinar que mais aprendemos. O psiquiatra americano William Glasser popularizou uma pirâmide de aprendizagem teorizando que nós aprendemos nas seguintes proporções: 10% quando lemos, 20% quando ouvimos, 30% quando observamos, 50% quando vemos e ouvimos, 70% quando discutimos com os outros, 80% quando fazemos e 95% quando ensinamos os outros. Portanto, se ensinar é uma forma de nos mantermos competentes e atualizados, a verdade é que também é uma ação de enorme generosidade. Por outro lado, há dois erros que qualquer professor, treinador, formador, instrutor ou facilitador deve tentar evitar a todo o custo: ensinar o que não sabe e ensinar centrando em si o processo. De facto, é cada vez mais evidente que no processo ensino-aprendizagem, o que é fundamental é mesmo a aprendizagem dos formandos e não o quão conhecedor do tema é o formador.

 

Praticar o que se ensina remete-nos para as questões da ética e da coerência entre as palavras e as ações. Já vai longe o tempo do “olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço”. A autenticidade é uma das bases mais sólidas do ensino. É fácil falarmos de teorias e conceitos, mas é na prática que a verdadeira sabedoria se revela, com princípios, credibilidade e confiança.

 

Perguntar o que se ignora é assumir e reconhecer, com humildade, que há sempre coisas que não sabemos. Questionar e procurar respostas é um sinal de curiosidade e desejo de melhorar as nossas competências e habilidades. Se, por um lado, hoje temos à disposição imensos motores de busca online, a verdade é que o contacto direto com professores ou especialistas potencia o acesso a recursos e informações que nos podem impulsionar ainda mais na direção dos nossos objetivos.

 

No entanto, também há que dizer, infelizmente, que parece haver um aumento significativo de treinadores, alguns de topo, que não se têm mostrado disponíveis para partilhar os seus conhecimentos e a sua experiência em clinics, ações de formação e similares. Claro que é uma decisão respeitável e até compreensível, nomeadamente para os que não se sentem confortáveis em apresentações orais, teóricas ou práticas. De facto, ser um grande treinador, por si só, não garante as habilidades para ser um formador competente que consiga comprometer uma plateia preenchida pelos seus de pares. Também não deixa de ser verdade o inverso, ou seja, um formador que nos deixa cheios de vontade de chegar ao treino e experimentar tudo o que nos transmitiu, esse formador não conseguir ser um treinador de sucesso. Menos compreensível, do meu modesto ponto de vista, é a atitude dos treinadores que não se disponibilizam sequer para redigir um pequeno artigo ou documento técnico para partilhar. Não colhe a desculpa das dificuldades na exposição pública ou a da agenda preenchida. Chegariam esses treinadores onde chegaram se não tivessem beneficiado da partilha de conhecimentos de tantos outros colegas? No mínimo, é de duvidar, não é?

 

Felizmente são vários os treinadores que estudam o jogo e continuam a promover a discussão e a influenciar outros companheiros. Eu tive grandes mestres. Mesmo. Alguns foram treinadores, outros jogadores, pais, dirigentes, árbitros, aprendi de tanta, mas tanta gente, que era impossível nomeá-los a todos. Talvez não seja justo, ou até seja, mas não queria terminar este texto sem evocar dois deles – os Professores Olímpio Coelho e Jorge Adelino. E faço-o não pelo seu passado na modalidade, nada disso. São treinadores que, no século passado, como devem imaginar, preparavam os treinos, as aulas, as formações, com os seus papeis e lápis, num tempo sem computadores ou internet… O que dizer ao ver estes mesmos Senhores Professores, à frente de um chroma key (aquele cenário de fundo verde), uma câmara, um microfone de lapela, um teleponto (que nem precisaram de usar), a dar uma “aula” que nos deixa completamente agarrados ao computador? Que sorte vão ter os treinadores de basquetebol estagiários de grau 1! Estas duas personalidades são o exemplo vivo de quem ensina o que sabe, de quem pratica o que ensina e de quem se atualiza permanentemente esquivando-se à ignorância. Obrigado, mestres!