Não sou um especialista do Minibasquete. Este ponto prévio é muito importante para darem o devido desconto caso os verdadeiros especialistas – que os há – venham a terreiro contestar estas palavras. Sou um curioso por esta atividade e, portanto, fui acompanhando, desde sempre, a sua evolução no nosso país. Não alinho no discurso fundamentalista que diz que o “minibasquete é o mais importante e a base de tudo o resto”, pois sabemos que a grande maioria dos jogadores que chega aos escalões adultos começa a jogar basquetebol mais tarde. Mas também não me identifico com o entendimento de que o “minibasquete é uma brincadeira e só serve para financiar a restante atividade”.
Estive recentemente em mais uma Festa do Minibasquete, exemplarmente organizada pela FPB (Comité Nacional do Mini) e a CM de Paços de Ferreira, e de campo em campo fomos ouvindo e sentindo coisas… que levaram à reflexão que vos deixo em seguida sobre alguns dos mitos que, na minha humilde opinião, envolvem esta atividade do Minibasquete.
Curiosamente, ou não, quem diz que “os miúdos são competitivos por natureza” são adultos, normalmente bastante, ou até exageradamente, competitivos. Quem lida com crianças sabe que algumas gostam, de facto, de vencer; outras crianças preferem, acima de tudo, participar e sentem prazer nisso; outras há ainda que só se motivam através da socialização, independentemente do resultado. Compete aos adultos, treinadores, pais, dirigentes, valorizarem mais o processo que o resultado, pois assim conseguirão dar resposta aos anseios e motivações de todos. Mas então não é desde cedo que devemos incutir o espírito competitivo? Até pode ser… mas nada nos diz que aos 10 anos de idade essa deva ser uma prioridade ou que possa vir a ter repercussões no desenvolvimento futuro dos jogadores.
Este vem um pouco na mesma linha do mito anterior… mas ilustro com uma história que nos chegou de um companheiro treinador. Estava ele na bancada a assistir a um jogo de minibasquete de uma criança sua familiar. Não havia marcador na mesa de jogo e no final, a criança corre para a bancada e pergunta “Então? Ganhámos?”… os adultos acharam estranho porque o resultado era 12-74… e tentaram encontrar a forma mais pedagógica de relativizar a derrota dizendo “Bem… ficou 12-74… mas jogaram muito bem…” e, perante a incredulidade dos adultos, a criança volta a perguntar “ok, ok, mas ganhámos?”. Mais uma vez, compete aos adultos criar condições para que os resultados não se sobreponham à importância do trabalho, do esforço, da dedicação e mesmo do desempenho, perdendo ou ganhando.
Mais uma frase cliché que encerra em si uma boa intenção… mas que é simultaneamente uma enorme falácia. O bom treinador de Minibasquete não é o que tem o grau 3, que tem 40 anos de idade e 15 anos de prática como técnico. Eu vi bons treinadores na Festa do Mini. Aqueles que tinham uma atitude exemplar no banco, os que corrigiam e elogiavam os seus pequenos, os que eram tolerantes ao erro, os que sorriam… e também aqueles que tinham de ajudar a apertar os atacadores, os que andavam na bancada a recolher as coisas que as crianças deixam esquecidas em todo o lado, os que davam abraços, os que confraternizavam com os outros colegas, com os pais e dirigentes. Mais do que treinadores, o Minibasquete precisa de educadores com paixão pela atividade.
São diversas as opiniões sobre o modelo de jogo e o modelo de ensino do Minibasquete. 3×3, 4×4 ou 5×5? 40 minutos ou 32? E o tamanho do campo? No nosso país a tendência parece ser, claramente, a de convergência com o jogo dos adultos. Com base em quê? Não se sabe bem… Mas, para muitos, se os espanhóis fazem do Minibasquete um jogo formal não são necessários mais argumentos. Faltará muito para estarmos a discutir se se pode utilizar defesa do tipo zona no Minibasquete?
Este é dos mitos cuja generalização leva à maior das injustiças. Os pais de uma atleta de Portimão pagam a mensalidade para que ela treine. Talvez ainda ajudem a custear as despesas para a filha ir representar a seleção. Depois fazem 600 km até Paços de Ferreira. Vestem as t-shirts que encomendaram com os nomes que constituem a equipa. Apoiam a equipa, incansáveis, jogo após jogo, com uma atitude exemplar. Não se envolvem no trabalho dos treinadores nem dos árbitros. Os intervalos são para confraternizar com outros pais, alguns de outras seleções, nos cafés que se enchem à volta dos pavilhões. Somem ainda refeições e noites de hotel. E mais 600 km de regresso após a Festa. À parte do tempo e dinheiro, pois pelos nossos filhos fazemos tudo, a atitude de 99% dos pais é que não pode ser posta em causa por aquele caso pontual de alguém que não sabe estar e que, infelizmente, acaba por ter mais protagonismo do que todos os outros que foram exemplo de boas práticas.