Por estes dias fiz uma formação prática para Educadores UBUNTU, no âmbito da sua Academia de Líderes. É um projeto de educação não formal, baseado num modelo pedagógico centrado nos participantes, assente nos seguintes três eixos fundamentais:
1) A ética do cuidado (nas suas três dimensões: cuidar de mim, cuidar do outro e cuidar do planeta);
2) Liderança servidora (a partir de exemplos como Nelson Mandela, Desmond Tutu, Martin Luther King ou Mahatma Gandhi); e
3) Construir pontes (tão necessárias num Mundo cada vez mais fragmentado e extremado, em que os valores da solidariedade, justiça e reconciliação têm de ser preponderantes).
As suas raízes são africanas, assim como o seu nome.UBU (tornar-se) NTU (pessoa). Porque só posso ser pessoa através das outras pessoas. O método UBUNTU assume o desenvolvimento de cinco competências centrais, que estão na base do crescimento humano: autoconhecimento, autoconfiança, resiliência, empatia e serviço. São portanto estes os 5 pilares onde toda a metodologia assenta, desenvolvida e testada sob a supervisão de um Concelho Científico de 18 investigadores e docentes do ensino superior.
Se calhar, tal como eu, já tinham “tropeçado” no UBUNTU por um par de vezes. Quer no videoclip oficial da música Everyday Life dos Coldplay, ou quer no documentário “Regras de um treinador para a vida” em que o coach Glenn ‘Doc’ Rivers fala do UBUNTU como forma unificadora de levar os Boston Celtics à conquista do campeonato da NBA. É, de facto, uma fórmula de sucesso que vai penetrando pelas escolas do nosso país, mas que tem uma transferência perfeita para o desporto e, no fundo, para as nossas vidas.
Mas a ligação ao basquete, que é “só” o tema central desta crónica, tem a ver com uma história fantástica relacionada com esta formação UBUNTU. Tudo começou na apresentação. Cada um dos formadores apresentou-se e falou das suas origens. Assim, a Catarina era do Porto, cidade onde nasci e vivi tantos anos. A Ana e a Isabel tinham raízes cabo-verdianas, de onde guardo boas memórias de um curso de treinadores que a FIBA me deu o privilégio de conduzir, em 2016, na cidade da Praia. O Tcherno é guineense, local onde também já dinamizei formação de treinadores por intermédio da FIBA, e de onde também guardo muita saudade, desde 2017. Por fim apresentou-se a Cibeli, do Brasil, curiosamente o último país que visitei enquanto formador FIBA, faz agora em novembro precisamente 2 anos, uns meses antes da pandemia nos fechar em casa.
Assim, enquanto os ouvia, fui viajando pelos seus países de origem, Porto incluído, ou não fosse o “Porto uma nação”. Em poucos minutos recordei lugares mas, principalmente, pessoas que muito têm feito pelos outros e pelo nosso basquetebol ao redor deste planeta. Chegou a minha vez de me apresentar. Ao nome e à escola que representava, acrescentei o que sempre acrescento quando não estou no meio do basquetebol, que é a referência “e sou treinador de basquetebol”. Normalmente, isso desperta a curiosidade dos meus pares, em que alguns deles procuram logo estabelecer uma ligação empática através do reconhecimento do Carlos Lisboa, ou agora da referência do momento – o Neemias.
Mas, o mais incrível aconteceu pouco depois, mal chegamos ao primeiro intervalo. A jovem brasileira Cibeli acerca-se a mim e pergunta “eu ouvi que era treinador de basquete… por acaso já esteve no Brasil?” Eu respondi que sim, naturalmente, mas não esperava a incrível coincidência “é que eu acho que foi formador do meu irmão no curso de treinador”. E não é que fui mesmo? Entre 213 milhões de brasileiros, e 11 milhões de portugueses, quem diria que isto podia acontecer? De facto, o Mundo é mesmo pequeno…